Em Busca do Coração Livre

ilustração: Mateo Dineen

Tonecas observava radiante a delicada planta de quatro folhas que a mão segurava. Apesar do imenso tamanho da sua boca, quase não houve sorriso que lhe coubesse.

O bonito presente havia-lhe sido enviado pelo Tobias (aqui vão conhecê-lo) — o amigo raro, de outro lugar, que compreendia a melodia da Terra e a linguagem da Natureza e dos animais.

A Natureza era o mundo do Tonecas, o mundo de ritmos próprios e livres. Com as plantas e os animais tinha conversas extraordinárias, com muitos porquês, muitos deles bicudos. Continue reading

O Menino que Escuta a Terra

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ilustração: Johan Potma

arvoresRecordei-me hoje do menino Tobias.

Tenho uma certeza secreta de que meninos semelhantes ao Tobias só existem no pequenino espaço onde habitam todas as coisas extraordinárias, num pequenino sítio no coração.

Mas o Tobias é tão verdadeiro quanto um homem antigo, um Inverno molhado, um banco gasto de jardim, ou tantas outras coisas.

Verdadeiro mas não certamente semelhante: o Tobias escuta as árvores, os animais, as rochas, a água, a terra, o Sol, o vento…; o corpo é feito de uma primitiva madeira que lhe murmura as mais velhas histórias do mundo; os pequenos lares de telhado azul que carrega são habitados por passarinhos livres e alegres. No mundo que eu vejo, tudo isto é incrível. Continue reading

O Arco-Iris faz uma longa viagem…

O primeiro movimento {a história…

Visto serem as primeiras palavras aqui escritas, dedico-as ao primordial impulso: a respiração.

A respiração é o fio que sustenta e atravessa todas as manifestações: é o primeiro movimento, a força evolucionária que marca o ritmo das pulsões primordiais da vida, da Natureza, da criação… da história.

Inspirada pelo sentido da respiração, eis que me chegou uma história; uma história inacabada, sem fim, como todas aquelas que são reais. Tal como a vida, ela inicia-se numa grande inspiração.

O menino que abraçou o arco-íris

Strong Dream, 1929, Paul KleeSete cores esbatidas e líquidas ergueram-se lá no alto, atravessando o mundo de uma ponta a outra.

Os grandes olhos negros do Tomé permaneciam abertos enquanto se firmavam no arco-íris; estavam tão compenetrados que, num momento único, o espantoso aconteceu: as sete cores foram aspiradas pelas suas narinas.

O Tomé albergava um mundo: o do arco-íris.

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