Na perfeição pura do elemento inicial
as árvores respiram as constelações, a seiva,
a argila, os rostos do tempo,
todos os despojos do subterrâneo e do sopro estelar.
Nenhuma presença se perde no fulgor do milagre.
Continue reading
Em Busca do Coração Livre
Tonecas observava radiante a delicada planta de quatro folhas que a mão segurava. Apesar do imenso tamanho da sua boca, quase não houve sorriso que lhe coubesse.
O bonito presente havia-lhe sido enviado pelo Tobias (aqui vão conhecê-lo) — o amigo raro, de outro lugar, que compreendia a melodia da Terra e a linguagem da Natureza e dos animais.
A Natureza era o mundo do Tonecas, o mundo de ritmos próprios e livres. Com as plantas e os animais tinha conversas extraordinárias, com muitos porquês, muitos deles bicudos. Continue reading
Ishmael e o Menino de Olhar Grande
Ishmael olhava as águas turvas do rio Jordão — Síria, Jordânia, Israel e Palestina estão fundidas nesse rio sacral que carrega parte da história da humanidade, pesada com vergonha e ferida —, o pensamento pairava-lhe pelo corpo, a respiração estava desalentada, e os traços no seu velho rosto já não se surpreendiam com coisa nenhuma. Continue reading
A Felicidade – O Abraço Quente da Vida
*O que é a felicidade e o que ela nos traz?*
O que é a felicidade e o que ela nos traz? Uma pergunta que permanece tão aberta e cheia de sentidos como sempre, desde a antiguidade até aos dias actuais. No maravilhoso projecto «7 Billion Others», de Yann Arthus-Bertrand, quando diante do tema felicidade, os entrevistados, das mais diferentes origens e culturas do mundo, mostram-nos quão o conceito de felicidade é livre e possui na sua própria natureza múltiplos vínculos com diferentes dimensões da vida. Continue reading
Hana e a Dança da Alma
Ouviam-se cantar os pardais, o sibilar brando do vento, o ruído dos riachos. A estes sons misturava-se o murmúrio da sua própria voz que monologava dentro, plangente e arrastada. O corpo avançava lento, atraído por um halo de ópio que parecia atravessar todo o espaço. Os grandes troncos de bambus pareciam seres ondulantes que comunicavam num outro plano, num outro sistema, numa intimidade única onde não cabe as coisas mundanas. Continue reading
A Flor do Novo Mundo
Entre o começo e o fim da Terra,
a flor deixou de ser a graça que recaía no tempo.
Talvez esteja mortificada sob o vácuo da matéria,
mas respira inteira na caverna da criação.
Viva na delicadeza dos cristais, aspira a um novo encontro,
a um novo anúncio, a uma ordem elevada sobre os divinos templos.
Completa, ela abre a linguagem que cresce no compasso do novo mundo.
Foto: Takashi Suzuki
Ter a Vida no Coração e nas Mãos
*O que é realmente ser jovem?*
A substância não se sujeita às condições da forma. Este é um princípio facilmente aplicável a muitas realidades. Uma dessas realidades, tão evidente quanto a vida, é de que o corpo jovem progressivamente perde a juventude, tornando-se velho. O corpo é a forma, não a substância; sendo unicamente o corpo que sucumbe à inevitabilidade do tempo cronológico, que envelhece, degrada, debilita, fazendo pulsar o corpo sob o ritmo da sua própria fatalidade. Continue reading
O Menino que Escuta a Terra
Recordei-me hoje do menino Tobias.
Tenho uma certeza secreta de que meninos semelhantes ao Tobias só existem no pequenino espaço onde habitam todas as coisas extraordinárias, num pequenino sítio no coração.
Mas o Tobias é tão verdadeiro quanto um homem antigo, um Inverno molhado, um banco gasto de jardim, ou tantas outras coisas.
Verdadeiro mas não certamente semelhante: o Tobias escuta as árvores, os animais, as rochas, a água, a terra, o Sol, o vento…; o corpo é feito de uma primitiva madeira que lhe murmura as mais velhas histórias do mundo; os pequenos lares de telhado azul que carrega são habitados por passarinhos livres e alegres. No mundo que eu vejo, tudo isto é incrível. Continue reading
Na Consciência de Nós Mesmos
*O que é a verdadeira inspiração e o que nos traz*
Quando penso na palavra inspiração — que compreensivelmente pode conduzir a diversas acepções — , é-me fácil, porque natural, centrar-me no coração da palavra. Talvez porque ela me inspira, me traz muito, tudo, sem eu ainda saber integralmente o quê; talvez ela me passe um brilho. E é claro que é sempre no coração das coisas que devemos atentar, pois só aí residem as grandes significações, transformações e viagens. Continue reading
Um Dia, o Medo Conheceu o Amor
E LOGO VIAJARAM PARA O DESERTO
Um dia, o Amor e o medo acharam-se um diante do outro. O Amor era grande e radioso. O medo era pequeno e escuro.
Com um sorriso feito de sol, o Amor convidou o medo para um passeio no deserto. O medo assentiu, desconfiado. Continue reading
O Arco-Iris faz uma longa viagem…
O primeiro movimento {a história…
Visto serem as primeiras palavras aqui escritas, dedico-as ao primordial impulso: a respiração.
A respiração é o fio que sustenta e atravessa todas as manifestações: é o primeiro movimento, a força evolucionária que marca o ritmo das pulsões primordiais da vida, da Natureza, da criação… da história.
Inspirada pelo sentido da respiração, eis que me chegou uma história; uma história inacabada, sem fim, como todas aquelas que são reais. Tal como a vida, ela inicia-se numa grande inspiração.
O menino que abraçou o arco-íris
Sete cores esbatidas e líquidas ergueram-se lá no alto, atravessando o mundo de uma ponta a outra.
Os grandes olhos negros do Tomé permaneciam abertos enquanto se firmavam no arco-íris; estavam tão compenetrados que, num momento único, o espantoso aconteceu: as sete cores foram aspiradas pelas suas narinas.
O Tomé albergava um mundo: o do arco-íris.